O OLHAR DO OBSERVADOR
(Madalena Freire)
A
observação é uma ação altamente reflexiva quando o olhar está pautado
para buscar ver o que ainda não sabe. Não é um olhar vago, à espera de
descobertas. É um olhar focalizado para detectar, diagnosticar o saber
do grupo. Por isso mesmo ação estudiosa de realidade pedagógica que, por
sua vez, demande esforço, empenho, disciplina.
Na ação própria do nosso ensinar e na função de observador, é preciso o exercício de:
SILENCIAR:
ser capaz de permanecer sem silêncio. Dominar o próprio pensamento,
numa interação “barulhenta” e por vezes conflitiva com o outro, mas...
dentro de nós mesmos. A escrita neste momento é o único instrumento para
(a futura) interação com o outro.
ESCUTAR:
a escuta de falas, reações mais variadas, e por vezes até silenciosas
do grupo assinalam sempre uma comunicação paralela do grupo entre si, e
com o educador. Exercitar a sutileza dessa escuta, buscando desvelar seu
significado é um dos grandes desafios da ação de observar.
VER:
olhar o todo, o coletivo, as partes, os individuais, no seu conjunto e
nos seus detalhes. No que cada elemento compõe a parte desse todo, com
suas falas, seus gestos, suas “sacadas”, seus silêncios. Aprender a
olhar além, sempre, perguntando todo o tempo, o que está por trás do que
se vê? Qual o significado? O que está para ser desvelado? É neste
sentido que o olhar do observador é de “leitor” de realidade pedagógica.
ESCREVER:
a escrita é um instrumento valioso de interação do observador com ele
mesmo, no diálogo com o educador e com o grupo que observa. Ela é o
apoio, a âncora do seu pensar, de sua reflexão. Se a escrita é âncora
para o observador na organização do seu pensar sobre a aula, a pauta da
observação nos crivos: aprendizagem, dinâmica e coordenação são
igualmente âncoras para a mesma. O desafio não é “escrever tudo”, mas
sim registrar o que é essencial, guiado pela sua pauta.
PARTICIPAR:
aprender a participar de modo diferenciado, eis um dos grandes desafios
do observador. Há dois níveis da participação que demandam duas
interações distintas. Uma interação silenciosa, que exige exercício de
concentração, atenção, um estar presente consigo mesmo e com o grupo,
pensando a aula. Outra interação medida pela linguagem corporal. Suas
expressões de espanto, surpresa, seus gestos, sua postura corporal
comunicam ao grupo o que no seu silêncio ele pensa, seu corpo “fala”.
Estes
cinco elementos inerentes ao ato de observar, quando assumidos no seu
exercício da aprendizagem cotidiana, possibilitam em nós o
desenvolvimento de competências cruciais também às funções do educador. SILENCIAR, ESCUTAR, ESCREVER, e PARTICIPAR,
enquanto construímos a aula, requer de cada um o exercício de
capacidades como a paciência a humildade, a tolerância, a generosidade,
sem as quais a construção do conhecimento fica comprometida. Enquanto
educadores, na função de observar, aprendemos esse exercício, por vezes
muito delicado, de “observar a dor” do outro e também as alegrias no
partilhamento da construção de sua aula.
Ótimo texto!
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