sexta-feira, 23 de maio de 2014

Para melhores observações em sala de aula

O OLHAR DO OBSERVADOR
(Madalena Freire)

        A observação é uma ação altamente reflexiva quando o olhar está pautado para buscar ver o que ainda não sabe. Não é um olhar vago, à espera de descobertas. É um olhar focalizado para detectar, diagnosticar o saber do grupo. Por isso mesmo ação estudiosa de realidade pedagógica que, por sua vez, demande esforço, empenho, disciplina.
        Na ação própria do nosso ensinar e na função de observador, é preciso o exercício de:
SILENCIAR: ser capaz de permanecer sem silêncio. Dominar o próprio pensamento, numa interação “barulhenta” e por vezes conflitiva com o outro, mas... dentro de nós mesmos. A escrita neste momento é o único instrumento para (a futura) interação com o outro.
ESCUTAR: a escuta de falas, reações mais variadas, e por vezes até silenciosas do grupo assinalam sempre uma comunicação paralela do grupo entre si, e com o educador. Exercitar a sutileza dessa escuta, buscando desvelar seu significado é um dos grandes desafios da ação de observar.
VER: olhar o todo, o coletivo, as partes, os individuais, no seu conjunto e nos seus detalhes. No que cada elemento compõe a parte desse todo, com suas falas, seus gestos, suas “sacadas”, seus silêncios. Aprender a olhar além, sempre, perguntando todo o tempo, o que está por trás do que se vê? Qual o significado? O que está para ser desvelado? É neste sentido que o olhar do observador é de “leitor” de realidade pedagógica.
ESCREVER: a escrita é um instrumento valioso de interação do observador com ele mesmo, no diálogo com o educador e com o grupo que observa. Ela é o apoio, a âncora do seu pensar, de sua reflexão. Se a escrita é âncora para o observador na organização do seu pensar sobre a aula, a pauta da observação nos crivos: aprendizagem, dinâmica e coordenação são igualmente âncoras para a mesma. O desafio não é “escrever tudo”, mas sim registrar o que é essencial, guiado pela sua pauta.
PARTICIPAR: aprender a participar de modo diferenciado, eis um dos grandes desafios do observador. Há dois níveis da participação que demandam duas interações distintas. Uma interação silenciosa, que exige exercício de concentração, atenção, um estar presente consigo mesmo e com o grupo, pensando a aula. Outra interação medida pela linguagem corporal. Suas expressões de espanto, surpresa, seus gestos, sua postura corporal comunicam ao grupo o que no seu silêncio ele pensa, seu corpo “fala”.
Estes cinco elementos inerentes ao ato de observar, quando assumidos no seu exercício da aprendizagem cotidiana, possibilitam em nós o desenvolvimento de competências cruciais também às funções do educador. SILENCIAR, ESCUTAR, ESCREVER, e PARTICIPAR, enquanto construímos a aula, requer de cada um o exercício de capacidades como a paciência a humildade, a tolerância, a generosidade, sem as quais a construção do conhecimento fica comprometida. Enquanto educadores, na função de observar, aprendemos esse exercício, por vezes muito delicado, de “observar a dor” do outro e também as alegrias no partilhamento da construção de sua aula.

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